Arquivo do mês: abril 2009

Aquilo que ninguém viveu

Lembra quando seus olhos não conseguiam sair da minha direção e mesmo de longe eu sentia, de alguma forma, que você estava me olhando? Lembra a sensação que isso dava? Os arrepios, frio na barriga. No meio de uma reunião séria a cabeça baixa, apenas para não olhar nos teus olhos e entregar tudo que tinha dentro de mim.

Lembra que no meio da multidão eu ia me afastando e você vinha rápido colocar a mão na minha cintura apenas para que eu soubesse que você estava ali? Eu sempre te procurava com o rabo do olho, sempre querendo saber se podia dar mais alguns passos ou se eu te perderia se fizesse isso.

Lembra das noites em claro conversando, dando risada? As cervejas, os refrigerantes, pessoas avulsas, cigarros acesos. O cheiro de maresia que entrava pelas janelas e deixava a sala muito mais agradável? A tv ligada e esquecida, os silêncios que não nos constrangiam, apenas tornavam o momento um pouco mais poético.

As histórias parecidas, as ideias que batiam, os corações que aceleravam. Os carinhos discretos, o cheiro, o gosto, a vontade. Lembra da saudade, da vontade de abraçar, das ligações falando baixinho como se tudo fosse por água abaixo se o mundo soubesse que existia gente assim feliz?

Lembra daquela onda? O mar tinha ficado bravo por algum motivo que eu nem lembro mais direito e jogou toda aquela água sobre nós. Nem era verão, estava frio e a água incomodava. Nossas mãos foram se soltando e então eu não te via mais. Desisti de olhar com o cantinho dos olhos, virei a cabeça, gritei seu nome. Silêncio mortal.

E então você reaparece agora, com esse olhar que não é seu e me olha. Não existe mais cabeça baixa, nem coração batendo acelerado. No meio da multidão eu vejo você, mas nada nos liga, nada nos faz seguir a mesma direção.

Meu coração tenta pular do peito e correr pra você, meu cheiro voa do meu corpo para o seu nariz, quem sabe assim você se lembra… Meu olhos fogem dos seus apenas pra ver se você ainda tenta me buscar. Não é mais você, é apenas alguém ali, alguém que não estava no começo da história.

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